Na medida em que as criptomoedas continuam conquistando o mercado financeiro global, tanto empresas de capital aberto quanto investidores institucionais estão incorporando criptoativos em suas estratégias financeiras. O que antes parecia coisa de entusiasta de tecnologia está agora nas células mescladas das planilhas de grandes corporações. O nosso Brasilzão está surfando essa onda e até o Banco Central já contribuiu com o processo.
Na Carta Tech deste mês vamos explorar o crescimento acelerado das operações de compra e venda de criptoativos no Brasil. As criptos já deixaram de ser novidade faz um tempo e já estão causando rebuliço suficiente ao ponto de fazer o Banco Central pegar o manual do FMI e rever como tudo isso deveria impactar a balança comercial. Além disso, vamos discutir alguns insights do relatório da Chainalysis, que traz um ponto curioso sobre a participação de empresas nativas de cripto e não-nativas (tradicionais) no mercado. Spoiler: as não-nativas estão nadando de braçada.
Os investimentos brasileiros em criptomoedas ultrapassaram a marca de US$ 10 bilhões em 2024, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central em agosto deste ano. Antes do Banco Central revisar a forma como essas operações eram contabilizadas, as vendas de criptomoedas eram consideradas despesas e somaram US$ 10,7 bilhões. Já as receitas (vendas), somaram US$ 792 milhões. Você deve ter feito a conta e chegado a um saldo líquido negativo de US$ 9,9 bilhões – basicamente, a galera está comprando muito mais cripto do que vendendo. Comparado com o mesmo período do ano anterior o valor das compras cresceram 50%. Mas isso é bom ou é ruim? Depende. Para o Banco Central, que não estava nem um pouco afim de ver esse déficit crescer, foi uma dor de cabeça. Mas pro mercado cripto? Parece nada mais nada menos que o caminho natural das coisas.
Inclusive, o Banco Central claramente não gostou do rumo que os números estavam tomando e, como bom estrategista, usou uma norma técnica do FMI de 2019 para mudar o status das criptomoedas. Elas passaram a ser tratadas como "ativos não financeiros não produzidos" nas estatísticas de balanços de pagamentos. Traduzindo: agora são contabilizadas na conta de capital, ajudando a reduzir o déficit nas transações correntes. E não para por aí! O BC abriu uma consulta pública sobre a regulamentação das criptomoedas também, o que pode gerar impactos positivos para o setor.
Com o salto de 50% no saldo líquido de criptoativos, o Brasil está chamando a atenção do gringo. Grandes corporações internacionais começaram a perceber o potencial de crescimento do mercado local, o que fortalece o ecossistema cripto no país. Isso não só coloca o Brasil no radar global, como também nos consolida como um dos principais hubs latino-americanos para a expansão de criptoativos, criando um ambiente fértil para inovação e novos investimentos.
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O governo brasileiro tem tomado medidas concretas para fomentar esse setor e atrair investimentos. Um exemplo claro é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que alocou R$ 28 bilhões para o desenvolvimento da inclusão digital e conectividade no país. Esse tipo de investimento é crucial para a expansão da infraestrutura necessária para sustentar o mercado de criptomoedas. Além disso, o Brasil tomou passos significativos no âmbito regulatório, oferecendo uma base legal sólida para iniciativas cripto. A legalização das criptomoedas como forma de pagamento, aprovada pela Câmara dos Deputados em dezembro de 2022, e a regulamentação do Bitcoin como método de pagamento são marcos que estabelecem uma estrutura regulatória abrangente e favorável ao desenvolvimento desse mercado.
Empresa cripto-tradicional
Empresas cripto-nativas são aquelas que nasceram no universo cripto e têm operações e modelos de negócio totalmente estruturados em torno das blockchain e ativos digitais, como exchanges e plataformas DeFi (finanças descentralizadas). Já as tradicionais (não cripto-nativas) são empresas de setores convencionais que resolveram entrar na brincadeira depois, adicionando criptos ao balanço para diversificar ou não ficar de fora.
Se eu te perguntasse quem tem mais Bitcoin, as empresas cripto-nativas ou as que não são nativas do ecossistema cripto, o que você responderia? Quem nasceu no mundo cripto deveria liderar esse espaço, certo? Mas, como você já deve ter suspeitado, se eu estou fazendo essa pergunta é porque a resposta não é tão óbvia assim.
Na verdade, os dados mostram que as empresas não-cripto estão comendo uma fatia muito maior desse bolo. O gráfico do relatório The 2024 Crypto Spring Report da Chainalysis mostra que companhias como a gigante de software, MicroStrategy, detêm mais Bitcoin do que todas as outras empresas cripto-nativas.
Embora seja importante fazer a ressalva de que o mercado não-nativo é muito maior e mais capitalizado do que o mercado das empresas cripto-nativas, impressiona saber que a MicroStrategy, sozinha, possui impressionantes 214.246 BTC. Isso representa 1% de todo o Bitcoin disponível no mundo. E ainda é apenas uma fração do tamanho total da empresa, revelando o enorme potencial de crescimento para outras corporações tradicionais em cripto que estão só começando a entender o valor estratégico das criptomoedas.
Fonte: Chainalysis
O Michael Saylor, fundador da MicroStrategy, declarou que decidiu investir massivamente em Bitcoin ao perceber que, durante a pandemia, os EUA cortaram as taxas de juros, enriquecendo quem já possuía ativos, enquanto quem trabalhava, como ele, se tornava "mais pobre". Ele vê o Bitcoin como um "capital perfeito", diferentemente de outros ativos, e acredita que a volatilidade do Bitcoin é um reflexo saudável de ser um ativo aberto e negociável globalmente.
Essa aceitação pode ser um sinal de que estamos no limiar de acabar com a distinção entre empresas cripto e não-cripto. Hoje em dia, até o vendedor de cachorro-quente da esquina tem um Instagram e um QR Code para pagamento. Isso faz dele um empreendimento digital? Talvez. O que importa é que essa classificação começa a fazer cada vez menos sentido. Se até os gigantes tradicionais estão investindo pesado em cripto, talvez seja hora de admitir que a linha que separa os dois mundos está cada vez mais tênue.
Na medida em que mais empresas de fora do universo cripto adicionam Bitcoin a seus balanços, a legitimidade do mercado cresce. Esse movimento aumenta a visibilidade e o torna mais atraente para investidores institucionais e estrangeiros. E com o Brasil emergindo como um dos principais mercados de cripto na América Latina, a expectativa é que essa movimentação global traga ainda mais força ao país como um centro cripto. Isso pode impulsionar inovações locais e fomentar investimentos em infraestrutura tecnológica e regulamentação.