Você abriu essa carta e pensou: “que estranho, mas não era só aos finais de semana?”. Já abrimos essa encíclica com uma novidade: sejam bem-vindos à Carta do Condado Tech, onde vamos te contar o que tem acontecido de diferente e relevante quando o assunto é tecnologia.
O setor de Tecnologia é importante e passa por um movimento interessante agora. Então, é a hora certa de falar sobre o assunto, porque, já disse o velho Buffett, é quando a maré baixa que vemos quem está nadando pelado.
Entre layoffs, que chegam a casa das dezenas de milhares de pessoas, e planos anunciados de crescimento de startups e fintechs que beiram ao surrealismo, o que você lerá aqui tentará fugir dos ruídos. Separa dez minutos e pega o café para ler a primeira edição do Condado Tech. Ou melhor, a Condado Tech.
Acabou o dinheiro!
Após um período de quinze anos em que o dinheiro tinha custo praticamente zero no mundo todo, os juros voltaram a subir e, surpresa: as empresas que ofereciam benesses quase inexplicáveis em seus headquarters - algo bem retratado em vídeos pelo TikTok - começaram a pensar melhor sobre como usam o dinheiro.
É fácil entender: o valuation de um negócio pode tender ao infinito com juro muito próximo de zero, mas a coisa muda de figura quando Powell - presidente do Fed - passou de “senhor bonzinho” para uma reedição de Volcker querendo resolver a inflação do mundo inteiro em poucas decisões, subindo o juro de zero para 4,5% nos últimos 12 meses.
A toada no setor é uma só: tá na hora de fazer valer o dinheiro dos investidores, trazer a valor presente os anos todos de aportes quase infinitos que acabavam alimentando uma eterna busca de revolução global (mas que acabam deixando os escritórios verdadeiros parques de diversão, com muito espaço de descompressão e pouco trabalho efetivo). Sai de cena o “contrata todo mundo que você conhecer” e entra em campo o “vamos ver quanto vale a pena toda essa estrutura”.
Ah, a própria estrutura do setor também tá mudando bastante: já há quem diga que Big Tech irá voltar a ser Real Tech nesse ano. O foco deve voltar a ser o de antes (publicidade, computação em nuvem, segurança de rede, etc) e menos no que tem sido feito atualmente (entrega de comida, telemedicina, etc) – em que qualquer empresa cria uma equipe de análise de dados e um app e se intitula “qualquer coisa”-tech .
O cenário em que apresentações de slides bonitas convenciam mais do que a última linha do balanço acabou junto com o dinheiro grátis. Quem resistir a isso terá sua relevância questionadanos próximos anos.
Voltar a fazer em casa ganha espaço
No começo da pandemia a preocupação era se o mundo iria acabar ou não. Quando vimos que não era bem assim, o foco passou a ser outro, o “quando tudo volta ao normal”. Basicamente tudo já voltou, mas uma coisa realmente pode ser chamada de “novo normal” (aquela expressão chata que você ouviu quinhentas vezes em apresentações da sua empresa): o mundo não olha mais do mesmo jeito para a China quando o assunto é ser a fábrica do mundo.
Dos anos 1990 até pouco antes da pandemia, todo mundo que queria expandir sua produção tomava uma das duas seguintes decisões: descolar um benefício com o governo (Zona Franca de Manaus, forte abraço!) ou importar o produto da China para só colocar o nome e uma etiqueta daqui.
Com um custo bem mais barato, nada de errado nessa decisão. O problema está nas decisões que um país tão fechado quanto a China costuma tomar: regras podem mudar da noite para o dia, setores serem alterados largamente e ninguém terá “paciência” de explicar os porquês. Não sei se você chegou a ver, mas até a produção de celular chegou a ser atrasada por isso.
O susto valeu e trouxe resultados reais: Apple vai produzir chips no Arizona a partir de 2024, Ford planeja produzir baterias elétricas no Michigan e até mesmo o governo de Joe Biden está incentivando mais a produção de chips nos EUA – com um pacote de US$52 bilhões em incentivos.
Pelo visto, nessa batalha de “voltar a fazer em casa”, dinheiro não vai faltar.
Por falar em Apple…
Toda vez que ouve falar na empresa da maçã mordida, certamente você pensa nos produtos. Mas existe um serviço diferente que a empresa está entrando agora e pode desembocar num avanço enorme nos seus lucros: o financeiro. No Brasil, temos um ecossistema de fintechs bem desenvolvido, mas na gringa ainda existe um espaço enorme para crescimento – e a gigante americana da maçã agora quer ir com tudo para esse setor de serviços financeiros, de pagamentos digitais, contas remuneradas e tudo mais.
A empresa já tem o cartão, que funciona em parceria com o Goldman Sachs, mas agora vai na direção de ser uma instituição que atua diretamente nesse business de meio de pagamentos digitais. Potencial enorme de trazer resultado, tendo em vista que seria, basicamente, incluir um app a mais nos smartphones que já estão no mundo todo – embora pareça que estão esbarrando em dificuldades operacionais e, principalmente, culturais na implementação do serviço.
Uma das funções principais desse app que estão querendo colocar na praça é justamente algo que predomina por aqui: o buy now pay later, ou o abrasileirado carnezinho. Pensando aqui: podiam chamar alguns brazucas para ajudar nessa missão, não ironicamente nessa tecnologia estamos anos-luz adiante! Como já disse o filósofo brasileiro Gusttavo Lima: “não quero saber o preço, quero saber em quantas vezes parcela”.
Novas tecnologias têm tudo a ver com Blockchain e nova economia
Junto de todas as movimentações relevantes que têm chacoalhado o setor tech recentemente, temos uma revolução silenciosa acontecendo.
É a descentralização digital e tudo que se relaciona com blockchain. Se estamos acostumados com um sistema centralizado em grandes servidores físicos, a tendência é tudo ir para a nuvem e utilização de verificação de dados autônoma.
Assim como o que aconteceu depois que estourou a bolha da internet no começo dos anos 2000, existe agora algo muito interessante: as ferramentas existentes nesse contexto amplo de descentralização ficam mais em evidência que as cotações insanas de moedas digitais de cachorrinho ou qualquer coisa que você tenha visto algum bilionário comentar no Twitter (alô Elon Musk, abraço!). Criptomoedas existem dentro do universo da tecnologia de blockchain, mas blockchain em si é uma tecnologia ampla que permite uma gama de aplicações diferentes além dos já bastante conhecidos meios de pagamento digital.
Dá para receber ou pagar em moedas digitais, colocar uma rede blockchain na sua empresa e organizar uma cacetada de coisas de maneira muito mais eficiente e otimizada. No Brasil, hoje, essas soluções digitais são oferecidas pela Foxbit, pioneira em blockchain no Brasil e especialista em encaminhar questões que são relacionadas a essa revolução em andamento. Recentemente, o Valor apontou uma dessas ferramentas, que funcionam de uma forma similar ao Pix. Com a adoção massiva de meios de pagamentos digitais pelo grande público, é bom ficar de olho nos desdobramentos e nas oportunidades que surgem disso.
Guerra da resposta pronta: o ChatGPT chegou abalando estruturas
ChatGPT é algo que nasceu com a ideia de otimizar o jeito que buscamos coisas na internet. Nada de ficar “adivinhando” o jeito certo de buscar, agora é possível fazer perguntas abertas e até pedir sugestões completas, textos, resumos e uma porção de coisas, tudo isso enquanto você conversa com um chat. Além do que essa ferramenta traz de novo, existe uma briga de cachorro grande que está acontecendo nos bastidores.
Eis os fatos: ChatGPT é algo criado pela OpenAI, empresa que a Microsoft despejou US$10 bilhões recentemente. Por pura bondade? Claro que não, por estratégia: a ideia é incorporar isso ao seu buscador, o Bing, e então tomar a liderança global no assunto “buscador de internet”.
E tem muito chão até isso acontecer, afinal, você fez alguma pesquisa recente no Bing?
Google, não querendo ficar pra trás, procurou o chat pra chamar de seu: o Bard. Mas aconteceu algo meio chato no dia da apresentação dele: em uma falha na resposta do ‘robô’ que deixou todo mundo da empresa com a espinha gelada, US$100 bilhões foram embora em valor de mercado. Só pra constar: esse montante é superior ao valor de mercado da Vale.
Essa guerra de chatbots inteligentes vai longe e deve envolver montanhas de dinheiro.
Pois é, para um setor que passa por uma enorme correção hoje em dia, até que os montantes envolvidos seguem bem elevados. Fiquemos de olho, porque vai ser briga de cachorro grande.
Até a próxima Condado Tech!
Muito bom!
Sensacional 👏🏻