Fluxos em cripto
A decisão de alocar seu dinheiro em algum ativo é talvez o ato mais inquestionável no que diz respeito ao valor que você atribui àquele ativo. Não é à toa que o portfólio de mercado é um ponto de partida valioso para diversas metodologias de otimização de portfólio. Nesse último ciclo das criptomoedas vimos um processo de maturação no que diz respeito ao interesse dos investidores e ao comportamento dos fluxos de capital.
Na Condado Tech de hoje vamos falar um pouco sobre os dados de fluxo dos ETFs americanos e brasileiros, os resultados recentes dos ativos digitais, os recordes de declarações à Receita Federal e, claro, como até a Inteligência Artificial já entendeu que existe espaço para criptomoedas nos portfólios.
Fluxo é Indicador de Tendência
O mercado de ETFs de criptoativos foi um dos grandes protagonistas dos últimos doze meses nos Estados Unidos. A aprovação dos ETFs de Bitcoin com lastro físico no início de 2024, aliada a uma postura mais favorável do governo americano em relação às criptomoedas, desencadeou um expressivo movimento de entrada de recursos. O destaque desse movimento foi o ETF da BlackRock, o iShares Bitcoin Trust (IBIT), que sozinho captou aproximadamente US$ 27 bilhões nos últimos 12 meses. Para dar uma dimensão, esse fluxo é maior que todo o estoque de capital sob gestão em toda a indústria de ETFs do Brasil somada.
O desempenho do IBIT, em termos de captação, não apenas superou as expectativas de mercado, como também colocou a gestora em posição de liderança dentro de um setor historicamente dominado por players menores e produtos especulativos. Hoje, o IBIT já ultrapassou a marca de US$ 48 bilhões em ativos sob gestão, e é um dos ETFs de crescimento mais acelerado da história.
Esse apetite institucional foi reforçado por dados recentes de alocação: fundos de pensão, gestoras independentes e investidores de alta renda passaram a incluir produtos cripto em suas carteiras de forma mais sistemática. Com o apoio de uma estrutura regulatória mais clara e a crescente presença de grandes nomes do setor financeiro tradicional, a tese de que o Bitcoin caminha para se consolidar como um ativo de reserva de valor segue ganhando força.
Se o fluxo foi positivo, o retorno no período também não deixou a desejar. De acordo com um levantamento recente da CoinLedger, os investidores em criptoativos obtiveram um retorno médio de US$ 5.482,00 ao longo de 2024. Não é de se jogar fora.
A ressalva de que estamos tratando de um mercado ainda sujeito a ciclos de euforia, a correção é sempre bem-vinda. A memória das correções nos preços dos ativos nos anos de 2018 e 2022 ainda é recente, e serve de lembrete sobre os riscos inerentes a esse tipo de exposição. No entanto, à medida que a infraestrutura melhora, a regulamentação avança e os instrumentos de acesso se tornam mais robustos, o risco tende a ser mais bem precificado, e o retorno ajustado ao risco, mais competitivo.
No Brasil também
Guardadas as devidas proporções, o movimento de normalização da presença de criptoativos nas carteiras de investimento também repercutiu no Brasil. Mesmo diante de um ambiente macroeconômico desafiador, com a taxa Selic caindo menos do que o estimado no começo do ano e voltando a subir ao longo de 2024, os ETFs com exposição a criptoativos listados na B3 registraram captações líquidas de cerca de R$ 700 milhões.
Esse volume chama a atenção, considerando o contexto adverso ao risco. Em um período em que ativos conservadores ofereciam retornos reais substanciais, investidores de varejo e institucionais decidiram alocar recursos em produtos mais voláteis, apostando na recuperação estrutural dos criptoativos. Destaque para o ETF BITH11, que lidera em volume de aportes, acompanhado pelo, ETHE11 e QBTC11 e outros atrelados a índices de Bitcoin e Ethereum.
O cenário regulatório positivo pró-cripto, a naturalização do investimento nesse tipo de classe de ativo e a busca por diversificação e por exposição a setores tecnologicamente inovadores ajuda a explicar esse movimento. Ainda que o volume captado no Brasil seja menor do que nos EUA, ele representa um sinal claro de que os investidores locais estão mais familiarizados e confortáveis com a presença de ativos digitais em seus portfólios.
E aproveitando que a data limite para a declaração do imposto de renda se aproxima a passos galopantes. Saiu recentemente um estudo da nossa Receita Federal com os dados sobre a presença de criptomoedas no portfólio do investidor brasileiro.
Em 2024, o Brasil atingiu recordes históricos em valores declarados à Receita Federal em operações com criptomoedas. Foram R$ 441 milhões, superando com folga os R$ 285 milhões registrados em 2023. Em termos de participação, o número de CPFs declarantes chegou a 63,4 milhões, também um novo recorde, frente aos 55 milhões do ano anterior.
Entre os CNPJs, o número chegou a 1,05 milhão, o segundo maior da história. No total, somando CPFs e CNPJs, foram mais de 64,5 milhões de registros em 2024. Os dados mostram não apenas mais dinheiro, mas muito mais gente entrando nesse universo.
Outro destaque: a participação feminina nas transações com criptoativos alcançou 38,09%, um salto considerável frente aos 21,2% do ano anterior. Em termos de volume financeiro, a participação das mulheres ficou em 15,2%, mantendo o patamar elevado de 2023.
O Bitcoin liderou em volume com R$ 54,6 bilhões negociados, mas o recorde foi em número de operações: quase 31,8 milhões. O Ethereum veio na sequência com R$ 12 bilhões e 14 milhões de transações. Já o USDT (Tether) bateu seu próprio recorde com R$ 210 bilhões movimentados, e um salto expressivo de 7,4 milhões de operações — mais que o dobro do registrado em 2023.
O que esse fluxo significa?
O ano passado representou uma confluência de dois fatores relevantes pró cripto: a divisão das recompensas que os mineradores recebem por quebrar os problemas de criptografia no processo de construção da blockchain, contribuindo para reduzir a oferta de novos bitcoins no mercado, unido à vitória de Donald Trump no estados unidos com sua plataforma de campanha defendendo que os EUA se tornaram central no cenário das criptomoedas.
Não dá pra desconsiderar o efeito de retroalimentação de preço também, mas no final das contas só corrobora o que a gente vem falando já algum tempo aqui na Condado Tech: cripto segue caminhando para se solidificar como classe de ativo tradicional, e na medida em que o mercado muda, a decisão de não ter uma parcela do seu patrimônio em cripto significa uma decisão de investimento que destoa do status quo do mercado.
Naturalmente que nenhum investimento é para todo mundo e é importante conhecer seus objetivos e necessidades, mas o zero vai se tornando gradualmente mais diferente.
E se os Chatbots de inteligência artificial são a síntese do conhecimento humano acumulado na forma de textos amigáveis, é interessante ver como as recomendações estão sendo incorporadas pelos modelos. Por exemplo, esse vídeo no perfil da Foxbit mostra como o DeepSeek, e suas menores restrições a recomendações de investimento, incorpora criptos na carteira.
Criptoativos já fazem parte
A difusão das criptomoedas como ativos de investimento é um movimento saudável para o ecossistema. A naturalização da presença desse ativo no cotidiano das pessoas faz com que seja cada vez mais comum o uso desse ativo nas suas decisões de alocação.
E para aproveitar essa grande mudança de cultura nossa parceira a Foxbit possui a Foxbit Compra Fácil da Foxbit Business: uma solução white label que permite diversificar o portfólio de serviços de sua empresa. De fácil integração via APIs, o Compra Fácil permite que bancos e instituições financeiras ofereçam compra, venda e consulta de criptoativos como o Bitcoin, com toda a infraestrutura da Foxbit Exchange — sem complicações e grandes desenvolvimentos.
O ano de 2024 marcou um ponto de inflexão no mercado de criptoativos. Os dados de fluxo, os retornos entregues e os recordes de participação mostram que a demanda por Bitcoin e outros criptoativos segue forte. Com apoio institucional, inclusão crescente de novos investidores e até ferramentas de inteligência artificial endossando sua presença em portfólios, o cripto deixou de ser aposta marginal para se tornar peça central em estratégias modernas de alocação.
Ainda tem muito chão para decretar maturidade total. Mas os sinais são claros: os criptoativos, cada vez mais, fazem parte do cotidiano do mercado financeiro.