O ETF de bitcoin abrindo caminho para outras tecnologias como a tokenização
Já parou para pensar no tamanho do mercado de ETFs dos EUA? É gigantesco! São mais de 3 mil ETFs listados, acumulando um valor de mercado de cerca de US$7 trilhões - compare com o PIB do Brasil talvez chegue a 2 trilhões de dólares esse ano. O gráfico abaixo demonstra a tendência crescente desse mercado desde 2013.
Fonte: relatório 2023 Capital Markets Fact Book
Em novembro de 2023 o mercado de ETFs americano representava uma fatia de mais 20% da indústria de fundos, disparado o país que mais recorre a esse tipo de ativo, conforme demonstrado no gráfico abaixo.
Fonte: site da B3
No Brasil a coisa muda um pouco de figura. Apesar da indústria de ETFs ter crescido muito nos últimos anos, com o total sob gestão atingindo R$45 bilhões (novembro de 2023), esse tipo de ativo representa apenas 0,5% do mercado brasileiro de fundos de investimento.
Você deve estar se perguntando por quê os ETFs não caíram no gosto do povo, pelo menos não tanto quanto nos EUA - ainda.
Aqui o mercado de capitais ainda é relativamente menos desenvolvido, menor e tem menos diversidade de produtos disponíveis. Além disso, ainda lutamos para tirar o saldo de R$983 bilhões da caderneta de poupança (2023) - isso diz muito sobre a maturidade do investidor pessoa física doméstico.
Apesar de ainda ser um mercado incipiente, está com uma ótima tendência de crescimento. Para dar magnitude: nos últimos quatro anos, o número de investidores em ETFs saiu de 111 mil para 503 mil.
Fonte: valor investe
ETF significa "Exchange-Traded Fund" que poderia ser traduzido como fundo negociado em bolsa. Quem não conhece o ativo deve estar pensando: Tá, mas fundo listrado eu já conheço - tem um monte de fundo imobiliário por aí. Não são só os FIIs que são negociados em bolsa, existem, fundos de infraestrutura e de participações listados, mas no caso dos ETFs existe uma característica inerente que é muito importante: são fundos abertos. Ou seja, apesar de suas cotas serem negociadas em um mercado secundário, existem mecanismos de entrada e saída de recursos dos fundos, e isso faz diferença.
Vamos ver mais de perto algumas características dos ETFs para entender melhor as suas especificidades:
ETFs são fundos. Ou seja, juntamos o dinheiro de algumas pessoas (cotistas) e esse dinheiro vai ser usado pelo gestor para comprar alguma coisa.
Os ETFs geralmente replicam um índice de referência. Assim, o papel de um gestor de um ETF é garantir que a cota do fundo varie junto com o índice. O processo de decisão de investimento do ETF estará documentada na metodologia do índice de referência, será sistemática, e garantida pela figura do provedor do índice. Já se perguntou o que significa o S e o P do S&P500? Então, quem provê esse índice é a Standard & Poor’s.
ETFs são negociados em bolsa. Ou seja, existe o conjunto de “dinheiros”, que está sob os cuidados do gestor, mas pequenas partes do direito a esse dinheiro pode ser transferido entre quaisquer pessoas. Muito parecido com uma ação, que é uma partezinha de uma empresa. Esqueça esperar 28 dias úteis para receber o resgate daquele fundo de ações glamuroso que você investiu, o tempo de liquidação é o mesmo de uma ação, e no caso dos ETFs de renda fixa é ainda mais rápido.
ETFs são fundos abertos, ou seja, existe a possibilidade de criar ou destruir essas cotas conforme a demanda, aumentando ou diminuindo o volume financeiro administrado pelo gestor. Isso é relevante porque nada impede que as cotas de um fundo negociado em bolsa atinjam valores muito diferentes da cota verdadeira, em função de fluxos de compra ou venda que leve as cotas a valores distorcidos. É aí que entra a figura do participante autorizado que troca ativos por cotas para ajustar a oferta ou a demanda por cotas do ETF na bolsa.
Aqui vale destacar que a comparação entre ETFs e fundos tradicionais é convidativa porque em ambos os produtos você acaba delegando a gestão da carteira de ativo a um terceiro - o gestor. A partir dessas características dos ETFs, surgem algumas vantagens:
Baixo custo: tendem a ter taxas de administração menores quando comparados a fundos de investimento tradicionais, o que os torna uma opção econômica para a construção de portfólios.
Tá, mas por quê? O motivo é simples: diferentemente dos fundos de gestão ativa, onde os gestores analisam e selecionam ativamente os ativos na tentativa de superar o mercado, os ETFs, aqui no Brasil, seguem uma abordagem mais sistemática, buscando espelhar a composição e o desempenho de um índice específico. Essa estratégia minimiza a necessidade de intervenção constante e análise detalhada por parte dos gestores de fundos, o que reduz os custos associados à gestão do fundo.
Diversificação: permite aos investidores adquirir uma cesta diversificada de ativos com uma única transação. É como se você pegasse uma parte pequena e simplificada de um conjunto complexo de ativos e permitisse a negociação dessas partes por meio de um único ativo. Além disso, existe uma gama de ETFs dos mais diversos espectros de investimento como setores produtivos, geografias, renda fixa, commodities, por exemplo.
Eficiência fiscal: Aqui no Brasil a eficiência fiscal se dá principalmente nos ETFs de renda fixa por dois motivos principais. Primeiro, a tributação sobre os ganhos desses ETFs está atrelada ao prazo médio dos títulos presentes na carteira do fundo, em vez de ser baseada no tempo de investimento. Isso significa que, mesmo que um investidor detenha um ETF de renda fixa por um período curto, como seis meses, ele pode se beneficiar de pagar alíquotas de Imposto de Renda (IR) mais baixas.
Por exemplo, em vez de ser tributado à alíquota de 22,5%, típica para investimentos de curto prazo, o investidor poderia pagar apenas 15% de IR, caso o prazo médio dos títulos na carteira do ETF exceda 720 dias (2 anos). Essa característica proporciona uma flexibilidade na gestão fiscal dos investimentos em ETFs de renda fixa.
O segundo é que os ETFs de renda fixa no Brasil são isentos do chamado "come-cotas", um mecanismo de recolhimento semestral do IR que incide sobre os rendimentos de fundos de investimento. A ausência do come-cotas nos ETFs de renda fixa permite que os rendimentos se acumulem sem a dedução semestral do imposto, potencializando o efeito dos juros compostos sobre os rendimentos do investimento.
Transparência: a divulgação das cesta de ativos que compõem a carteira é feita diariamente, incluindo a lista de ativos e as suas ponderações. Você sabe o que está comprando e a chance de ser vítima de peripécias de uma gestão audaciosa reduz drasticamente.
Até agora estamos falando de um velho conhecido do mercado financeiro tradicional, mas a SEC abalou o mercado com a notícia da aprovação dos ETFs de bitcoin em janeiro deste ano.
Grandes gestoras como BlackRock, Fidelity, ARK Investment Management e outras - cerca de 10 - lançaram seus ETF e juntas já acumulavam mais de US$10 bilhões em investimentos recebidos nos EUA, isso um pouco mais de um mês depois da autorização da SEC - a brincadeira é outra quando a boleta é gorda. Com a chegada dos ETFs de Bitcoin vemos notícias como a que eles acumularam 10 vezes mais bitcoin do que os moradores conseguiram produzir. A empresa de análise de dados on-chain CryptoQuant, estimou em 14 de fevereiro, 75% dos novos investimentos em Bitcoin estão vindo dos novos ETFs de bitcoin.
A chancela da SEC para esse tipo de ativo produz um movimento curioso. Proporciona a um ativo conhecido no mercado tradicional - os ETFs - um DNA digital.
Enquanto os ETFs de futuros permitiam uma exposição sintética ao Bitcoin, utilizando contratos derivativos sem possuir a criptomoeda em si, o ETF de Bitcoin spot muda esse paradigma ao vincular diretamente o valor do ETF à posse real do Bitcoin no mercado à vista. Essa abordagem naturaliza a representação de ativos em formatos digitais, consolidando a digitalização do patrimônio do fundo.
A conversa sobre ETFs abre caminho para uma reflexão mais ampla sobre a digitalização e a democratização do acesso a ativos financeiros, e alguns paralelos podem ser traçados com o processo de tokenização.
A tokenização é o processo de transformar direitos e ativos, podendo inclusive ser ativos reais, em tokens digitais registrados na blockchain que podem então ser negociados no todo ou em partes. Um exemplo que pode ilustrar esse processo: obras de arte valiosas podem ser tokenizadas para que múltiplos colecionadores possam deter partes de uma peça, democratizando o acesso ao investimento em arte.
Esse processo de digitalizar direitos e ativos reais em tokens numa blockchain tem boas semelhanças com a inovação trazida pelos ETFs de Bitcoin spot, principalmente no que tange à transparência e diversificação. A transparência, que é uma velha conhecida e intrínseca da blockchain, assegura uma visão clara e imutável das transações. Além disso, a capacidade de tokenizar ativos permite a diversificação, possibilitando que investidores menores participem de mercados que não podiam acessar antes.
Isso demonstra como novas tecnologias nascem para resolver problemas e adquirem características positivas de soluções que já existem.
Um movimento curioso revelado pelo “Relatório RWA: um mergulho no mercado em 2023” de agosto do ano passado pela RedStone Finance e Chaos Labs é que o setor movimentou mais de R$3 bilhões em 2023 (US$630 milhões em ativos tokenizados), isso representa um crescimento de 453% em 2023.
A pesquisa da Binaryx, plataforma especializada em tokenização de propriedade chegou ao impressionante valor de que ativos tokenizados vão representar 10% do PIB global até 2030, chegando a US$16,1 trilhões (50 vezes maior em relação ao valor registrado em 2022).
A nossa parceira Foxbit surge na vanguarda no mercado de tokenização de ativos. Com o Foxbit Tokens, você tem o poder da tecnologia blockchain ao seu alcance, transformando ativos do mundo real em formatos tokenizados e acessíveis. O objetivo é democratizar o acesso a oportunidades de investimento antes reservadas apenas aos grandes investidores. O pessoal da Foxbit publicou este vídeo com mais detalhes.
O lançamento do ETF de Bitcoin representa apenas o início de uma jornada mais ampla no universo das criptomoedas, que abrange uma diversidade de ativos digitais além do próprio Bitcoin. O mercado cripto, com a sua vasta gama de ativos e tecnologias aborda uma variedade de desafios que vão além das soluções oferecidas pelo Bitcoin e Etherium - as famosinhas - , por exemplo.
A Solana é um bom exemplo disso. Comparativamente, enquanto a Solana ostenta um tempo de bloco de meros 400 milissegundos em média, a Ethereum opera com blocos de 15 segundos e o Bitcoin em 10 minutos. Esta eficiência permite que a Solana processe milhares de transações a cada segundo, mantendo as taxas de transação abaixo de US$0.01, um feito que realça seu potencial como uma alternativa poderosa e acessível à Ethereum e ao Bitcoin no universo blockchain - a evolução é constante.
Essas criptomoedas e plataformas blockchain trazem inovações em termos de escalabilidade, velocidade de transações e funcionalidades de contratos inteligentes, entre outros aspectos, expandindo o potencial de aplicação da tecnologia cripto para resolver problemas complexos em diversos setores. Portanto, o ETF de Bitcoin é um marco importante, mas é apenas o começo de uma exploração do potencial e das oportunidades que o ecossistema cripto pode oferecer.