Saiu uma pesquisa bem interessante sobre a adoção de criptomoedas como meios de pagamento. A pesquisa foi tocada pela Triple-A, uma empresa especializada em meios de pagamento digital.
Em linhas gerais, a pesquisa coloca em números um movimento que a gente adora comentar por aqui. A crescente adoção de casos práticos de uso para criptoativos. Afinal, o valor de qualquer ativo deriva da capacidade que ele possui de fazer as pessoas pagarem por ele, deriva, por sua vez, do valor que as pessoas extraem de utilizar o produto.
O primeiro dado são os números recordes de crescimento de investidores em criptomoedas, e a marca de que superamos recentemente o número de usuários do PayPal, uma das maiores empresas globais de meios de pagamento.
A comparação entre investidores e usuários de um sistema de pagamento é o gancho perfeito para essa carta. Afinal, o nome da empresa é PayPal e não InvestBro, se seus investimentos estão todos lá, talvez você precise conversar com alguém.
A viabilidade dessa comparação é um reflexo de que estamos diante de uma classe de ativos com características singulares. A ideia de comparar investidores com um serviço transacional só faz sentido por conta da característica fundamental de qualquer ativo tokenizado (criptomoedas sendo um subconjunto deles) que é a capacidade de transacionar patrimônio.
Ninguém mais usa ouro para fazer as compras do mês, do mesmo jeito que você não consegue comprar uma televisão pagando algumas quantidades de Tesouro Selic (ainda!). A crescente aceitação do Bitcoin como meio de pagamento mescla as barreiras entre o papel de reserva de valor e meio de pagamento. O escopo do que concebemos como ativos líquidos aumenta drasticamente, e o valor de parcela do seu patrimônio como meio de pagamento é destravado.
Uma anedota hipotética e útil: suponha que você exagerou nas compras do cartão de crédito, sua fatura vence no dia 28 mas infelizmente seu salário só cai no dia 3. Se você tem patrimônio mas não consegue usá-lo para quitar suas dívidas, você não tem um problema de solvência, você tem um problema de liquidez. Querer evitar vender os títulos públicos que você comprou há 15 anos e hoje são 80% rentabilidade e pagar um caminhão de imposto de renda parece razoável (dessa vez não, Haddad!)
Felizmente você tokenizou a sua casa e agora existe um mercado saudável para o que ela deveria rentabilizar caso alugada. Você então vende uma pequena parcela da sua casa para alguém durante 5 dias, paga sua fatura do cartão de crédito e, quando seu salário cair devidamente na conta, um smart-contract é ativado e recompra aquela pequena fração da sua casa por um valor um pouquinho maior, referente ao que aquela parcela do imóvel produziria de aluguel naquele período. A revolucionária tecnologia das compromissadas, ao alcance da palma de sua mão.
Seus títulos continuam usufruindo dos juros compostos, sua casa continua sua e o seu banco preferido não precisa passar pela inconveniência de te cobrar pela fatura em aberto. O único lado ruim de tudo isso, e seria muita negligência minha não comentar, é imaginar que vai chegar o dia em que seu primo Enzo e o Tio do Terreno vão te dar a mesma recomendação de investimentos no churrasco de domingo.
Isso ainda não é possível, e a grande dificuldade de implementar uma solução desse tipo e extrair esse tipo de valor de uma tecnologia que já existe é perfeitamente exemplificada na dúvida sobre se quem chegou primeiro foi o ovo ou a galinha. Para que esse mercado seja minimamente eficiente é imprescindível a abundância de oferta e demanda, tanto para evitar ineficiências monopolistas, quanto para garantir a atuação do mecanismo de descoberta de preços. É o valor da rede, e o motivo pelo qual o Facebook comprou o Instagram por US$1 Bi em 2012.
A segunda parte da pesquisa endereça justamente a evolução desse processo. Alguns números e comentários:
Comércio online
Mais de 85% dos comerciantes dos EUA veem a habilitação de pagamentos com criptomoedas como uma alta prioridade.
Comerciantes que aceitam pagamentos com criptomoedas viram um ROI médio de 327% e um aumento de até 40% de novos clientes.
25,1% dos proprietários de criptomoedas usaram criptomoedas para fazer compras online em 2021.
Tudo nesses tópicos chama a atenção, especialmente para quem pensava que o bitcoin servia apenas como reserva de valor. Imagine um cenário onde adotar uma tecnologia resulta em um expressivo aumento de novos clientes - e clientes novos já que a nova geração é mais adepta - parece benéfico.
Atendendo a essa demanda, a nossa parceira Foxbit lançou o inovador Foxbit Card, reafirmando seu compromisso com as tendências em meios de pagamento em criptomoedas. Com o Foxbit Card, você pode usar seu cartão em todas as maquininhas Mastercard, incluindo em compras internacionais - até o Renegade que vende pamonha na Faria Lima deve aceitar!
Este produto elimina a necessidade de converter criptomoedas em moeda fiduciária para cada pagamento, basta ter saldo no cartão. E não estamos falando apenas de Bitcoin, mas também de Ethereum, Tether, Ripple, Cardano e reais também, claro.
Voltando aos dados da pesquisa, todo negócio depende do seu cliente realizar um pagamento pelo seu produto ou serviço, difícil encontrar malefícios no processo de viabilizar mais uma maneira disso ser feito. Esse efeito é potencializado pelo fato de que você está expandindo o acesso ao seu produto ao mundo inteiro, inclusive aqueles que ainda não foram agraciados pela dádiva de um cartão de crédito. E ainda por cima, com a possibilidade de receber em moeda local, sem precisar se preocupar com:
Transferências Internacionais
15,8% das remessas de dinheiro internacional já estão sendo feitas usando criptomoedas.
As remessas com criptomoedas são 388 vezes mais rápidas e 127 vezes mais baratas do que os métodos tradicionais de remessa.
Todo mundo que já precisou emitir uma nota fiscal internacional, memorizar um IBAN de 34 dígitos, já passou a ansiedade de ver seu dinheiro desaparecer de um lado do atlântico e demorar três dias para aparecer do outro, ou ainda ficou torcendo para se enquadrar no cupom de desconto do seu site de remessas favorito entende que esses números não são surpreendentes.
Outro ponto que chama a atenção são os níveis da adoção de Criptomoedas em regiões demográficas assoladas por instabilidades econômicas. Aqui o objetivo não é trazer receita de fora, mas sim tirar ativos de dentro. A vida de quem precisa vender Peso Argentino ficou muito mais fácil, inclusive com as compras de Bitcoin alcançando níveis recordes por lá agora em 2024.
O presidente ultraliberal recém eleito (Javier Milei) inclusive vem aumentando as exigências de regulamentação para operar criptomoedas no país. Naturalmente o aparente contrassenso de um anarco-capitalista regulador incomoda os puristas e agrada os realistas e a comunidade internacional.
Questão Geracional
Retomando o alinhamento intergeracional de narrativas de domingo, a pesquisa da Triple-A também dá números ao que a gente já sabia pela amostragem demográfica dos influencers de criptomoedas: mais de 70% dos investidores em criptomoedas têm menos de 35 anos, e em 2021, 94% de todos os compradores de criptomoedas eram millennials e da geração Z, com menos de 40 anos.
Embora relevantes em número, jovens ainda representam uma parcela relativamente pequena da riqueza mundial, o que inevitavelmente muda com o fato jurídico que une as duas únicas certezas da vida (calma, mãe, a senhora tá ótima!).
Em resumo, está ficando cada vez mais fácil falar de cripto do jeito certo: enaltecendo os benefícios da tecnologia sem precisar recorrer ao argumento de quanto que o BTC se valorizou nos últimos meses. Gradualmente está deixando de ser apenas sobre preço também no imaginário coletivo.
Ótimo conteúdo. Parabéns!